O início dos anos 2000 bombou com garotas poderosas que lançavam canções bem grudentas em nossas cabeças, acompanhadas de coreografias que algumas de vocês dançaram muito na escola. Quem não se lembra do grupo Rouge? 5 garotas sempre vistas nos programas de TV e da rádio com seu hit Ratatanga, grudento, grudentíssimo! Com certeza Ratatanga grudou mais que Despacito. No final das contas, 15 anos depois, temos Ratatanga ainda tocando nas festinhas de muita gente marmanja por aí.
Rouge teve uma carreira curta, mas este ano, resolveram unir o grupo e voltar a ativa. Você possivelmente não sabia disto. Eu também não saberia se não fosse Aline Wirley. Aline voltou não só com o Rouge mas com um visual novo, um visual que mostra muito da sua história e da história de muitas mulheres negras por aí.
Aline Wirley teve cabelos diferentes ao longo de sua carreira, resultado do uso de diversos aplique. Este mês ela apareceu com o cabelo raspado mostrando um cabelo que nem ela sabia que tinha. Raspar o cabelo foi um processo de reconhecimento para Aline que desde pequena usava kanecalon:
“Tirar este cabelo, não foi uma coisa fácil. Me despir daquilo que eu achava que era bonito, não foi uma coisa fácil. E tem sido transformador todos os dias quando eu acordo de manhã e me olho na frente do espelho e me vejo assim como eu sou. Isto tudo diz respeito a me amar, a me conhecer, a me respeitar, a me encontrar, a minha aparência física e acho que eu sempre quis ser para o outro e nunca fui para mim mesma”
Aline desabafa e chora em seu novo canal no Youtube.
São questões mais íntimas da mulher negra que precisam ser ditas. Falar sobre isto num vídeo, é libertador para Aline e inspirador para muitas outras mulheres. Não superamos este tema e ele precisa ser discutido já que existe ainda um preconceito direto e velado.
Aline Wirley resgata seu cabelo neste momento em que lança um novo CD. Indômita é muito do que vive a cantora nestes novos tempos. “A música Indômita fala sobre o instinto selvagem da mulher”, explica Aline. Aline está ótima e linda. No entanto assumir o cabelo natural não veio sem críticas. Muitas pessoas começaram a dizer que a Aline parecia um homem e que não está nada feminina, no que ela rebate:
“eu nunca me senti tão feminina e tão linda (..) depois que eu cque eu tirei o megahair, porque eu me conectei e me conecto todos dias com a feminilidade em outras formas, em outros aspectos, nunca me senti tão potente tão brilhante e tão feminina, porque realmente a feminilidade pra mim não tá no cabelo, não tá [só] na minha unha grande ou na roupa que eu visto (…)”.
O Big Chop (retirada através de corte de toda química dos cabelos) é um momento especial na vida de muitas mulheres e ele é ainda mais significativo na vida de uma mulher negra. Sim é verdade. Assumir a textura do próprio cabelo é luta social, aceitação e consciência de si. Que a história de Aline, inspire tantas Alines que procuram o seu próprio lugar no mundo.